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Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.Intitulado “Mar Português”, publicado na Mensagem, de Fernando Pessoa (1888-1935), eis um de muitos poemas dedicados ao nosso mar, aqui numa referência histórica ao período dos Descobrimentos, no século XV. Falar de Portugal é falar, inevitavelmente, da sua relação com mar, ou não fosse o país banhado, de sul a oeste, pelo Oceano Atlântico, totalizando uma costa de 963 quilómetros, às quais se juntam ainda os arquipélagos da Madeira e dos Açores.
O desenvolvimento do país está intimamente ligado ao mar. Desde cedo se percebeu o seu potencial, não apenas como fonte de matéria-prima, mas também como uma oportunidade de expansão económica, mesmo numa altura em que tanto se temiam criaturas mitológicas e outras histórias tenebrosas. Foi a relação de proximidade com o Oceano Atlântico, e a crença de que havia mais mundo para além do que se avistava, que permitiu chegar a territórios e povos até então desconhecidos. Se não fosse isso, talvez Gil Eanes não tivesse dobrado o Cabo Bojador nem Vasco da Gama tivesse descoberto o Caminho Marítimo para a Índia. O mundo mudou com isso, fomentaram-se trocas comerciais, por exemplo, e evoluiu-se no domínio da navegação astronómica e na construção naval. O que, à partida, era uma ameaça passou a ser um mar de oportunidades, que se mantém até aos dias de hoje.Na gastronomia portuguesa, é do mar que vem grande influência. De norte a sul, até às ilhas, somos o país das sardinhas e do peixe grelhado, mas também das grandes mariscadas. Sempre fresco, sempre abundante.
As praias são outro grande atractivo. São as do sul as mais afamadas, mas a verdade é que há poucos países com uma costa tão atractiva como a nossa. Do Algarve a Viana do Castelo, são mais de 500 as praias, onde se multiplicam também as actividades marítimas recreativas e desportivas, fazendo de Portugal um destino turístico por si.
Recentemente, foi aprovada em Conselho de Ministros a Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030 com o propósito de “potenciar o contributo do mar para a economia do país, a prosperidade e o bem-estar de todos os portugueses, e dar resposta aos grandes desafios da década, reforçando a posição e visibilidade de Portugal no mundo enquanto nação eminentemente marítima”. Mais uma vez, o Atlântico como uma esperança para o futuro.