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Foi com o terramoto de 1755 que o rei D. José I (1714-1777) decidiu instalar a corte na Ajuda, uma zona que havia escapado praticamente ilesa ao trágico incidente. O paço da Ajuda, denominado como Real Barraca da Ajuda, começou por ser em madeira para melhor resistir aos sismos, mas acabou – ironia do destino – destruído num incêndio, dando lugar àquele que é hoje o Palácio Nacional da Ajuda, bem diferente, ainda assim, do plano inicialmente traçado, já que foi uma obra lenta, interrompida várias vezes. Construído na primeira metade do século XIX, num estilo neoclássico, foi só com D. Luís I (1838-1889), ao lado de D. Maria Pia de Sabóia (1847-1911), que este palácio acabou escolhido para residência oficial da família real portuguesa. E assim se manteve até à Implantação da República, em 1910, quando a realeza foi obrigada a exilar-ser. O Palácio acabou encerrado, mas em 1968 abriu ao público, como museu, conservando a sua história até aos dias de hoje, com a curiosidade de ter tido durante mais de 200 anos uma fachada por acabar, na ala poente, a que dá para a Calçada da Ajuda. Foi só em 2022, 226 anos depois do início da construção, que a obra foi terminada, com a instalação aqui do Museu do Tesouro Real, uma promessa antiga. O projecto de remate é do arquitecto João Carlos dos Santos.Hoje, o Palácio Nacional da Ajuda é o único palácio visitável em Lisboa que ainda conserva a disposição e a decoração das suas salas, não sendo difícil de imaginar a vida na época, dos momentos mais recatados aos grandes banquetes. Os interiores mantêm-se inalterados, fazendo denotar o gosto sofisticado da rainha, principal responsável pela decoração do palácio. Ao longo da sua vida, D. Maria Pia foi sempre comprando ourivesaria, tapeçaria, mobiliário, cerâmica, além de pintura, gravura e escultura, com a ideia de engrandecer a sua casa. Desta importante colecção de artes decorativas faz parte, por exemplo, a única obra do pintor espanhol El Greco que existe em Portugal, um óleo do primeiro quartel do século XVII, exposto na capela privada, um local muito procurado pela rainha, depois da morte de D. Luís. Neste palácio, nasceram os príncipes D. Carlos (1863-1908) e D. Afonso (1865-1920).É no Palácio da Ajuda, actualmente também sede do Ministério da Cultura, que fica a Biblioteca Real com um acervo de mais de 150 mil obras. Além disso, à semelhança das muitas cerimónias de corte da época e dos grandes bailes que aconteciam, ainda hoje o Palácio Nacional da Ajuda é palco de inúmeros eventos oficiais e actos solenes, do Conselho de Ministros ao Conselho de Estado.
Na nova ala, expõe-se, então, pela primeira vez de forma permanente o tesouro real, ou seja, os bens da antiga Casa Real portuguesa, tanto obras pertencentes à Coroa, como provenientes das antigas colecções particulares dos vários membros da família real. A mostra está dividida em 11 núcleos: ouro e diamantes do Brasil; moedas e medalhas da Coroa; joias do acervo do Palácio Nacional da Ajuda; ordens honoríficas; insígnias régias – objectos rituais da monarquia; prata de aparato da coroa; colecções particulares, ofertas diplomáticas, capela real; Baixela Germain e viagens do Tesouro Real.